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domingo, 14 de junho de 2015

Sodade di nha terra Cabo Verde


 
Já disse isto, fui feita no verbo ir, adoro viajar e em cada viagem venho uma pessoa melhor, um ser humano mais completo, uma mulher mais consciente e grata pelo que tem!

Fiz mais uma viagem, enchi mais um pouco a minha bagagem de histórias, sensações, pessoas e vida!

Tenho a sorte de já ter conhecido muitos sítios (poucos, muito poucos se comparado com a imensidão de mundo por conhecer!), de já ter estado em países de 1º mundo e em países de 3º, de ter conhecido realidades muito diferentes da minha, para o melhor e para o pior! Já estive em resorts de luxo e não me senti feliz, já estive no meio de gente com muito pouco (quase nada) e vi sorrisos que me encheram a alma!

Para todas as viagens levo apenas uma coisa: sede de conhecer! Para Cabo Verde levava mais uma coisa, a certeza absoluta (como nunca tinha tido) de que me ía sentir em casa, de que me ía sentir feliz, de que me ía sentir parte das gentes, da cultura, da ilha… e não me enganei!

Tudo o que possa dizer sobre o Sal é pouco… as cores, os cheiros, os sorrisos das crianças, a simpatia das gentes, a arte de bem receber (morabeza), o espirito positivo de quem vive com quase nada e parece que tem tudo, a música que se entranha no corpo como se tocasse dentro de nós a toda a hora, o mar de uma cor que não se define, a areia que nos abraça naquele branco imaculado…e tudo o resto que as palavras não definem mas que a memória quer resgatar porque sabe que a sôdade vai bater na hora da partida!

Fui feliz no Sal, muito feliz! Não porque estive num resort com tudo incluído a esquecer a vida de stress que tenho em Portugal mas porque andei no meio das pessoas, a conhecer, a falar, a sorrir, a dançar, a sentir, a viver!

Conheci a Samira que esteve a estudar em Portugal e voltou para ilha para trabalhar num hotel que fechou e deixou no desemprego 150 pessoas e que agora faz alguns trabalhos de guia para poder criar os dois filhos. Ela que assim que soube que eu trabalhava num laboratório farmacêutico disse: ‘ah, você deve viver bem não é?’. Vivo, vivo muito bem, porque mesmo que este país me coloque numa classe que de média já nada tem, nunca soube o que era estar desempregada, nunca soube o que era um salário mínimo de 110€, nunca soube o que era não ter uma cama confortável para dormir!

Conheci o Bamba, um senegalês que como tantas centenas que vivem no Sal, todos os dias me tentava vender alguma coisa e , mesmo não conseguindo, não deixava de fazer de meu ‘segurança’ nos bares, alertando-me para os bad boys lá do sitio!

Conheci a Dalida, uma menina linda de S.Vicente, que nasceu para dançar e iluminava o palco com o seu sorriso e a sua alegria, sorriso que se multiplicava quando começava a contar histórias do seu irmão de 7 anos, traquina e rechonchudo!

Conheci a Ariana, que me levou para dançar e de 5 em 5 minutos me perguntava se estava bem, se estava a gostar…ela que disse com uma alegria quase infantil que um dia ainda ía conhecer Lisboa!

Conheci o Johny que todos os dias ficava encantado com as minhas tatuagens douradas!

Conheci o Abu, o gigante menino, que me arrancava gargalhadas a toda hora com as suas brincadeiras.

Conheci a Deyrisia, com uma doçura rara que me fez prometer que ía voltar!

Conheci o Dany, o puto meio tímido com quem treinei o meu pouco criolo!

Conheci o YaYa, que foi o meu companheiro de dança dentro e fora do hotel e que parecia que tinha pilhas Duracel!

Conheci pessoas que, independentemente de viverem do turismo e para o turismo, transmitem uma verdade, uma pureza, uma essência que é rara nas pessoas com quem me cruzo todos os dias!

Senti-me em casa, uma casa muito diferente da minha mas onde viver feliz parece fácil e quase natural!

Trago comigo o cheiro a óleo de palma que perfuma as peles, trago comigo os sorrisos que recebi em todos os sítios por onde passei, trago comigo muito mais do que aquilo que levei!

Vou voltar…não sei quando, não sei com quem mas sei que vou voltar porque voltamos sempre aos sítios onde somos felizes!

Cábu berdi é sabi…ti na volta!