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segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

Dentro e fora de mim





A cabeça pede descanso, o corpo pede aventura, o coração pede emoções novas.
Preciso de ir...essa é a única certeza que oiço em gritos dentro de mim! Preciso de ir para me sentir viva, para me lembrar de como é bom sentir! Preciso de sair desta rotina dos dias, desta dormência que só serve aos que se ficam pelo normal. Recuso-me a adormecer na normalidade, recuso-me a ser calmaria quando tudo em mim é tempestade! Não fui talhada para o conhecido, o desconhecido teima em conhecer-me. Preciso de encontros, preciso de descobertas, preciso de movimento, preciso de turbilhão.
Não quero o tradicional. Não quero o que é suposto.
Quero viajar...dentro e fora de mim!

terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

A mochila...



Encho o copo de vinho tinto, na esperança de que o néctar divino me faça flutuar e levar, por momentos, este cansaço que me pesa no corpo.
O cão já foi á rua e agora, ao sentir-me finalmente por perto, dormita no sofá.
As compras estão feitas e o frigorífico voltou a ganhar cor depois de mais uma ausência que o deixou vazio.
...
A casa está em silêncio. Hoje não vou para a cozinha.
Hoje vou deixar-me estar, de copo de vinho na mão, a imaginar como seria se tivesse menos 15 anos. Hoje vou imaginar que o cão não precisa de mim, que não existe uma hipoteca para pagar, de uma casa que eu dispensava ter, que não existe um trabalho que me suga as forças e me faz escrava de um ordenado que, á vista de outros, me devia deixar feliz.
Hoje vou imaginar que faço as malas com pouco mais do que alguns trapos, uma máquina fotográfica, cadernos e canetas e um passaporte que me leva daqui. Fecho a porta e vou. Vou libertar-me destas rotinas e viver. Viver com pouco, porque o muito já me basta. Não quero a casa, não quero o carro, não quero os gadgets. Não quero ser obrigada a agradecer todos os dias porque tenho mais do que muitos… mas muito pouco do que preciso.
Queria ir…ir em desapego, ir sem rede. Deixar para trás o que é e descobrir o que pode ser. Queria conhecer novos sítios, novas gentes, novas línguas, novas formas de viver. Queria descobrir-me longe desta zona que mascarei de conforto. Queria sentir medo, queria sentir solidão, queria sentir saudade…não ter pressa de ir ou tempo de ficar. Sentir, viver, escutar apenas o coração. Guardar memórias, observar, criar histórias e inventar palavras. Ser.
Sinto que já não sou daqui, deste espaço que me prende, desta rotina que me cansa o corpo. Sinto que há algo melhor para além daquilo que me dão os dias.
Mas também sinto o cansaço no corpo e na alma, a lembrar-me que não tenho 20 anos.
Bebo mais um gole de vinho, olho para o cão que continua a dormir, passo os olhos pela casa á minha volta que ainda falta pagar, os telemóveis caros em cima da mesa, o computador a lembrar-me o trabalho que ainda não está acabado…
A casa está em silêncio…a máquina fotográfica está sempre pronta, o passaporte está em dia, os cadernos estão é espera de se encher de palavras. Fecho os olhos e vou, ainda que a porta continue fechada! A mochila leva pouco mais do que aquilo que é realmente meu: os sonhos!

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

Simplesmente com muito amor...


Escrito num dos meus livros preferidos. Escrito para ficar como se escreve tudo aquilo que queremos eternizar no tempo.
Amo-te muito...e era muito e sempre foi. E virou lembrança. Uma lembrança que vem e vai. Uma lembrança que está espalhada no tempo. Simplesmente porque é assim. Simplesmente porque não se apagam as lembranças escritas a tinta permanente.
Eu e tu, em tantas poesias que escrevemos. Como Florbela Espanca, estamos gravados na so
brecapa do livro. E estamos escritos num tempo só nosso...porque o tempo leva e traz aquilo que a vida não apaga. E fomos prosa com outros nomes, histórias de outros livros, palavras de outras bocas. E fomos amor de outros, da mesma forma simples que fomos um do outro.
Simplesmente com muito amor, num Setembro em que era, a teu lado, infinitamente amada. Simples, como tudo devia ser. Eterno, como nada o é. 


domingo, 21 de fevereiro de 2016

Posso contar-te um segredo?



Sou um dos teus segredos, és o maior dos meus.
Somos a história que ficou por contar.
Somos a frase incompleta num qualquer caderno esquecido.
...
Somos a chave de uma porta que continua fechada.
Somos a equação que ninguém consegue decifrar.
Somos o que está à vista de todos e não se consegue ver.
Somos as iniciais de algo que se quer anónimo.
Somos um grito que se fez silêncio para ninguém ouvir.
Somos a saudade mascarada de desapego.
Posso contar-te um segredo? Serás sempre o meu segredo mais bem guardado!

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

Vou ler-te uma carta mãe...


Acordei sobressaltada. Aliás, mal tinha dormido naquela noite. Não percebia bem porquê, afinal até estavas um pouco melhor no dia anterior, tinhas apertado a minha mão e sorrido para mim. Ainda assim, fora do que era habitual, mal acordei quis ir ao hospital. Não era hora de visita mas eu entrava e saía a qualquer hora.
Nunca vou esquecer a cama vazia, o medo, a falta de ti, o corpo a escorregar parede abaixo enquanto o médico me tentava abraçar e dizer aquilo que ninguém quer ouvir: ‘tens de ser forte’! Como pode alguém ser forte quando lhe tiram um pedaço de vida? Como pode alguém ser forte quando tem de ir para casa e dizer, ao homem que amou uma mulher por mais de 40 anos, que ela não vai voltar? Como pode alguém ser forte quando não foi a tempo de parar o tempo?
Ainda hoje me pergunto o que falamos na última noite…apagou-se-me tudo da memória! E vivo com este medo de não te ter dito o quanto te amava, de não te ter repetido o quanto precisava de ti na minha vida…
Éramos tão diferentes! Discordávamos em quase tudo, chocávamos de frente nas nossas convicções, medíamos forças, travávamos batalhas…mas em todas elas vencia o amor que me tinhas e que eu te tinha! E o amor de mãe, ensinaste-me tu, pode exprimir-se nos silêncios, pode interpretar-se por linhas tortas, pode manifestar-se de várias formas mas será sempre, um amor incondicional e único!
Escrevi-te imensas vezes ao longo dos anos…sabes que sempre fui de escrever! Acabo sempre a ler em voz alta o que te escrevo, não vá o pai não estar aí para te ler as minhas cartas. Escrevo-te porque sei que nem sempre estás feliz por mim, que nem sempre te orgulhas do percurso que tracei, que nem sempre sou o que tu idealizaste para mim! Continuo a ser a teimosa do costume, a rebelde sem causa, a que não aceita que lhe ditem regras, a que não se deixa guiar por outros, a que sabe sempre o caminho a seguir mesmo que esteja perdida. Continuo a ser eu, a que não se deixa moldar, a que não se deixa apanhar na rede do que é certo e politicamente correto. Tentei, sabes que sim! Tentei ser a mulher que foste…mas eu sou eu mãe, ainda que com um enorme orgulho em tudo o que eras e, no quanto me ensinaste a ser!
Dizias-me tantas vezes: ‘um dia, quando fores mãe, é que me vais dar valor!’ Juro que me lembrei disso, naquele dia, quando aquela maldita ecografia me disse que o coração do meu bebé não batia…juro que senti a mesma dor e o mesmo vazio do dia em que vi a cama de hospital vazia! Queria passar para ele (tinha a certeza que era um rapaz!) uma parte de ti, queria passar para ele o que de melhor me deixaste, queria mostrar-te que tinha aprendido contigo, a ser uma mãe de amor, como tu sempre foste! O tempo, mais uma vez, não me deu tempo…
Sinto-te a falta. Em cada um destes 16 anos, sinto-te a falta…
Não me lembro se to disse naquela última noite, enquanto me apertavas a mão e sorrias, mas amo-te mãe, amo-te com o mesmo amor incondicional que me ensinaste, com a mesma verdade com que me educaste, com a mesma inesgotável saudade que só quem ama sente…
Agora vou ler-te tudo isto em voz alta, não vá o pai não estar aí para te ler mais esta carta!

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2016

Imperfeições



Não esperem de mim perfeição. Não esperem de mim o que é suposto. Não esperem de mim estereótipos que me recuso a seguir.
Não esperem de mim que esteja sempre a sorrir. Não esperem de mim que fique onde não quero ficar. Não esperem de mim que aceite o que não quero aceitar.
Não esperem de mim que goste de todas as pessoas. Não esperem de mim que diga sempre que sim. Não esperem de mim que seja só amor.
...
Não esperem de mim que perdoe tudo. Não esperem de mim respostas que não tenho. Não esperem de mim que esteja sempre presente.
Não esperem de mim sempre as mesmas atitudes. Não esperem de mim que seja paciente. Não esperem de mim que abdique dos sonhos.
Não esperem de mim rotina. Não esperem de mim sempre boas maneiras. Não esperem de mim modas que não sigo.
Não esperem de mim perfeição porque eu esperei muito tempo pelo momento em que me tornaria, finalmente, imperfeita!

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2016

O quarto de hotel







Tinham decidido seguir caminhos separados já fazia muito tempo, uma eternidade que não se contava no calendário mas, que ficava marcada de uma forma que só eles sabiam.
Quando as saudades apertavam (e apertavam muitas vezes), bastava uma mensagem com um simples ‘estás bem?’ para sossegarem os corações. Evitavam ver-se, embora muito de vez em quando, precisassem de alguns minutos para se olhar nos olhos e, apenas sorrir e inspirar o cheiro um do outro. Nunca
... passava disso, breves momentos, espaçados no tempo.
Ele seguia pela vida o melhor que podia e sabia, ela colecionava paixões a que nunca chamou amores.
Um dia uma mensagem diferente. Não dizia ‘estás bem?’, perguntava ‘vens?’…e ela foi, sem hesitar. Iam poder voltar a ser apenas ele e ela. Iam poder fugir ‘do mundo’ que os aprisionara em jaulas separadas, para voltar a partilhar um mundo que era só deles e para eles.
E pareciam crianças num passeio da escola, e pareciam adolescentes a viver o 1º amor, e pareciam adultos felizes e apaixonados, como sempre foram quando estavam juntos! Ela era feliz ao lado dele, passasse o tempo que passasse, fosse em que espaço fosse, durasse o tempo que durasse! Ele voltava a saber o que era a felicidade no sorriso dela, no cheiro do seu cabelo, no abraço apertado que lhe sabia a vida…
Mas algo mudara. Chegou a noite e o quarto de hotel. Nunca tinham estado juntos num quarto de hotel. Nunca tinham estado juntos assim, como dois amantes num encontro furtivo e fugaz. E, por muito que os corpos se desejassem, por muito que se ansiassem num reencontro que tantas vezes imaginavam em segredo, o seu amor nunca fora um amor de corpo, sempre fora um amor de alma. E as almas amam-se mesmo sem se tocarem, as almas amam-se muito para além do toque…
Voltou a sentir-lhe cada pedaço de pele, voltou a arrepiar-se com o toque das suas mãos, voltou a desejar cada movimento do seu sexo, mas não ali, não num luxuoso e frio quarto de hotel.
Naquela noite houve sexo, como havia sempre que ele procurava o cheiro do cabelo dela em outros corpos, como havia sempre que ela sentia prazer e nada mais com outros homens. O seu amor não se satisfazia num orgasmo, a sua saudade não se saciava entre quatro paredes. Amavam-se, iam sempre amar-se e, por isso, jamais poderiam voltar a juntar os corpos.
Tinham decidido que os seus corpos seguiriam caminhos separados, que apenas os seus corações e a sua alma os manteriam unidos num amor que só eles sabiam existir. Um dia os corpos voltariam a juntar-se, na eterna valsa que prometeram dançar…
O amor não se confina a momentos de prazer num qualquer luxuoso e frio quarto de hotel!