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quarta-feira, 16 de março de 2016

O puzzle inacabado...


Foi exatamente neste dia: 16 de Março de 2012.
Eu era o protótipo da mulher realizada. Exemplo de superação de obstáculos, de determinação, de coragem. Tinha-me feito mulher, de profissão estável, tinha a casa que imaginara ao pormenor, viajava 2 vezes por ano (ás vezes mais), tinha o cão, o jardim, o príncipe encantado, a relação perfeita, o amor invejado. Tinha amigos, tinha dinheiro, tinha saúde, tinha amor. Tinha tudo aquilo que define, para a maioria, a felicidade!
Ele, o maior presente que a vida já me tinha dado, naquele dia, olhou-me nos olhos e perguntou: 'B. és feliz?' E foi como se uma bala me atingisse o coração. Senti-me morrer. Morri ali, em frente ao homem com quem tinha partilhado amor, amizade, projetos e mais de 1/3 da minha vida... Morri ali, ao perceber que há muito tempo já tinha morrido!
E esse foi o dia que marca o antes e o depois, esse foi o dia em que deixei para trás não apenas 12 anos mas, toda uma vida.
Fui...sem saber como nem para onde, fui em busca nem sabia bem do quê. Tive de me desconstruir. É como se o meu puzzle, de que é feita a vida, tivesse sido vandalizado.
Olhas e vês milhares de peças, olhas e pensas que não tens mais 34 anos para voltar a montar aquele puzzle! Olhas e tens ali o maior desafio que enfrestaste até aquele dia, reconstruir o puzzle da tua vida. Se deu medo? Um medo aterrador, um medo gigante...mas as peças estão ali, toda a tua vida a precisar de ganhar forma novamente, por isso não há tempo para ter medo. Tens de arregaçar as mangas, tens de procurar a 1a peça e começar, ou recomeçar, a construir a tua vida!
E é fantástico como este 'jogo' pode ter tanto de fácil como difícil, de rápido e de lento, de ordem e confusão, de certeza ou dúvida, de lógica e de loucura... Há alturas em que todas as peças encaixam a uma velocidade alucinante, em que o desenho está a construir-se com a maior clareza diante dos teus olhos, para logo de seguida passares dias á procura da próxima peça, a olhar inerte para o enigma, com dúvidas se algum dia o vais conseguir terminar!
De início, pedes aos amigos para te ajudarem. Quanto mais mãos melhor! Passam horas e horas entretidos, em volta de todas aquelas peças. Riem, bebem, falam, vão, voltam… constrói-se um pouco do puzzle mas, a determinada altura, tudo é motivo de distração e o puzzle fica em 2º plano. Afinal, há tanta coisa para fazer entre amigos, para quê perderes o teu tempo e o deles a ‘construir um puzzle’?
Depois, achas que a solução passa por construí-lo a 4 mãos. Um jogo a dois. Momentos de partilha, momentos em que te entregas e recebes o outro no jogo da tua vida. Mas, rapidamente percebes que hoje, há jogos mais interessantes, que se perdeu o interesse em jogos de lógica e paciência, que não se tem tempo para quebra-cabeças quando as cabeças e os corações já foram quebrados!
Voltas a olhar para as peças…em silêncio, tu contigo e sem ruídos á volta. Percebes o quanto já conseguiste, quanto do teu puzzle já reconstruíste. Orgulho. Um imenso orgulho é o que sentes por ti, pela imagem ainda inacabada que o puzzle te mostra. Respiras fundo. Ainda existem um monte de peças espalhadas, ainda existe um imenso trabalho pela frente. Sorris. Tens tempo…todo o tempo do mundo para te reconstruíres e conseguires de novo ter a imagem completa. Afinal, já morreste um dia e voltaste a nascer. Afinal, o importante não é concluir rapidamente o puzzle mas sim, desfrutar do jogo que a vida te oferece!
B.

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