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sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

Era uma vez...


Com mais um ano a acabar é tempo de retrospetivas. Comentávamos entre amigos que este ano passou a correr! É verdade... ainda ontem tudo era tão diferente, tantas coisas pareciam distantes!
Escrevo, essencialmente, para marcar com palavras os momentos, as sensações, as vivências, as questões da minha vida. Escrevo porque é bom olhar para trás e ter provas de que a vida é uma constante montanha russa que, com os seus altos e baixos, nos provoca sensações únicas no tempo!
Hoje vou partilhar aqui um texto que tem quase um ano e que, na altura, apenas partilhei com aqueles que acompanhavam um período de crescimento, de mudança, de descobertas, muito importante para mim.
Hoje, ao reler este texto é tão bom sentir que consegui muito daquilo que procurava, alcancei grande parte daquilo a que me propus, perdoei, perdoei-me, aprendi, reencontrei alguém que há muito procurava...eu mesma!
Partilho convosco uma história que podia ser de muitos de nós, porque muitos de nós apenas buscam reencontrar dentro de si, alguém que perderam pelo caminho! Partilho agora convosco uma história de um ser humano (e não um super herói) que não desiste de procurar o melhor caminho para que no fim possa dizer: eu fui feliz!
Vou contar-vos agora que...era uma vez:
Era uma vez uma menina que foi abandonada …
Em vez de se sentir diferente ou infeliz, a menina sempre se sentiu grata: grata pelos pais que a vida lhe deu, grata pelo amor que lhe dedicavam, grata por não ter tido o destino da sua irmã…
Á medida que crescia, o sentido de gratidão por tudo o que tinha á sua volta aumentava! Grata pelo pai amoroso que tinha e que era o melhor ser humano que conhecia, grata até pela mãe autoritária, exigente, dura, mas que a amava profundamente! A determinada altura a gratidão que tinha pela vida, pelo que tinha recebido e continuava a receber, tornou-se maior do que ela. Sempre a viram como uma menina forte, destemida, esperta, capaz de conseguir tudo a que se propunha!
A mãe exigia-lhe que não falhasse, o pai idolatrava-a por não falhar, por ser capaz de tudo! Á sua menina nada metia medo!
Sempre foi de pessoas, de amor, embora não fizesse questão de colecionar amigos…escolhia-os criteriosamente! Também não era de trato fácil e, por isso, ou a amavam ou a odiavam! Uma coisa era certa: todos os que tinha reunido á sua volta a julgavam uma super mulher, alguém de uma fibra sem igual, de uma capacidade brutal de lutar e lutar contra qualquer obstáculo que lhe aparecesse á frente! Ela própria nunca via outra opção senão essa: ser forte, provar a tudo e todos que não desabava por nada deste mundo.
Um dia passou pela dor maior: uma vez e outra vez…embora se sentisse desabar por dentro, vestiu de novo a sua capa e provou que nem a dor maior a fazia cair! Para a ajudar surge o Amor…e o Amor resgatou-a daquela dor maior, foi a sua bóia de salvação! E agarrou-se a esse Amor como se mais uma vez a vida lhe estivesse a dar uma bênção única, uma bênção que ela tinha de fazer por merecer mais do que tudo porque, afinal, ninguém pode ser assim tão abençoada pois não?
Ela não podia falhar com o Amor, tinha de ser a mulher perfeita, um misto de protetora, de mãe, de amiga…tudo menos ela na sua essência pois tinha vergonha de ser como era! A sua essência podia fazer com que o Amor a abandonasse, com que o Amor desistisse dela, com que ela não merecesse o Amor…porque afinal quem era ela para merecer tanto? Aos poucos perdeu-se de si, esvaziou-se de si, deixou de saber quem era…mas isso não era importante porque aos olhos dos outros continuava a ser a mesma super mulher, a mesma menina capaz de tudo, que o pai idolatrara e a mãe idealizara! Não queria desapontar ninguém á sua volta, não o podia fazer, tinha essa divida com a Vida!
Mesmo quando o Amor enfraqueceu, quando o Amor lhe começou a fugir pelas mãos, teve a arrogância de se achar forte, de achar que conseguia segurá-lo…e por medo de o perder, perdeu-o! E depois de o perder já nada mais havia…já não tinha de provar nada a ninguém! Mas estava vazia de si, tinha-se perdido de uma forma tal que teve de se encher novamente: e encheu-se dos outros, de todos os que tinha á sua volta, daqueles que eram agora a sua família, o seu porto de abrigo, a sua outra bóia de salvação… e voltou a sentir-se grata por ter tanta gente boa á sua volta, voltou a sentir que recebia tanto, quando tudo o que dava não era mais do que a sua obrigação. E, mais uma vez, vestiu a capa de super mulher, de super amiga…e despiu a pele de humana! Despiu a pele de quem tem medos, de quem tem fraquezas, de quem tem necessidades, de quem chora e sofre porque a vida não lhe dá tréguas, porque tem constantemente de provar a si que é digna dos outros!
E veio outra vez o Amor, desta vez mascarado, desta vez temporário, só para lhe mostrar que ela era feliz se voltasse á sua essência, se se enchesse de si e se esvaziasse dos outros…e foi embora, deixando-a nua, com aquela que era agora a dor maior…maior do que a morte dos outros porque era a sua própria morte!
Ficou nua ao ponto de sentir que tinha morrido há tanto tempo! As lágrimas que chorara, a dor que sentira era por si, era por alguém que tinha enterrado e não conseguia ressuscitar! E sentiu, pela primeira vez, a dor de estar morta quando tudo o que queria era Viver!
Chorou a sua morte, fez luto por si mesma e agora está de volta em busca da menina que não queria ser super mulher, apenas queria ser uma menina como todas as outras, que brincavam com bonecas, sonhavam com príncipes, queriam casar de vestido branco e ser felizes para sempre!
Essa menina está cá, tem medos, tem fraquezas, tem um lado bom e um lado mau, é vulnerável, não é perfeita nem quer ser…essa menina é apenas a mulher que eu quero ser!
A mulher que quero ser ainda tem de desculpar a mulher que fui, ainda tem de se perdoar, de pedir perdão a outros mas, acredito que quando eu e ela nos encontrarmos vamos ser felizes para sempre!

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