Senti vergonha…vergonha de mim, como há muito não sentia,
vergonha da mulher que estava naquele ‘espelho’, que a mais improvável das
pessoas pôs á minha frente! Não sei quem ele é, porque veio, se vai ficar…apenas
sei que, quando os meus olhos se prenderam a ele naquela noite, quando senti
que já o conhecia sem nunca o ter visto, não podia imaginar que ele seria a
forma de o universo me mostrar a pessoa em que me tornei!
Um dia descobri que me tinha perdido de mim. Um dia decidi
voltar a encontrar-me. Um dia voltei à vida, como se tivesse renascido. Um dia
voltei a amar, despida de mim e sem medos. Um dia fui feliz…por momentos fui
feliz como nunca tinha sido. Um dia esqueci esse amor. Um dia voltei a ter medo
de amar. Um dia voltei a ser abandonada todos os dias. Um dia vesti-me
novamente com roupas que não eram as minhas e voltei a ser o que sempre fui:
alguém que não sou eu!
Estou sozinha nas horas dos dias…por culpa dos outros digo
eu, por culpa dos que não se entregam, dos que não mostram o que sentem, dos
que fogem do compromisso…
Estou sozinha nas horas dos dias e digo a mim própria que me
basto, que o amor que voltei a ter por mim me basta, que aprendi a encher-me de
mim para que os outros nunca me faltem…aprendi a mentir como nunca menti!
Nunca mais ouvi a palavra amo-te, nunca mais a disse a um
homem…
Nunca mais voltei a andar de mãos dadas, a dividir pipocas
no cinema, a acordar com o pequeno almoço na cama, a escrever mensagens de
amor, a ser lamechas e parva como só os apaixonados são, como eu sou quando estou apaixonada!
Contentei-me com o pouco que me davam, mostrei que isso me
bastava, que eu era independente, segura, adulta demais para essas fraquezas do
amor! Tornei-me naquilo que odiava nos outros! Ouvi vezes sem fim: ‘ Bela, tu
mereces mais, tu és muito mais do que isso que aceitas e que dás!’ Nessas
alturas, fechava-me em mim, voltava a lembrar os tempos em que amei tudo e fui
tão amada e pensava: ‘eu já tive isto, já senti isto, já fui mais amada do que
muitas mulheres serão a vida toda…isso basta!’
Entrei como peão num jogo de xadrez que nunca quis jogar... fiz-me jogadora por medo de perder e perdi por não saber jogar!
Maldito medo que me fez mentir assim, que me fez fugir
assim, que me fez voltar a vestir esta pele que não é a minha! Maldito abandono
que me deixaste marcas que teimam em cá ficar!
Maldito ‘espelho’ que me mostraste quem realmente sou e quem
não quero ser!
Em vergonha me confesso: sou frágil, sou insegura, sou intensa,
sou apaixonada, sou sonhadora, sou pouco para o muito que o amor é na minha
vida!
Em vergonha me confesso: ou tenho tudo ou morro aos poucos por não
ter nada!
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