Há pouco menos de um ano, estava eu a almoçar e na mesa ao
lado, um senhor com os seus 60 e muitos anos não parava de olhar para mim.
Temendo que eu estivesse a ficar incomodada, a determinada altura disse: ‘a
menina ou a senhora vai-me desculpar eu estar a olhar tanto para si mas é tão
bonita’. Esbocei um sorriso tímido e, educadamente, agradeci o elogio. Ele
continuou: ‘ quando digo bonita, não estou só a falar do que está aos olhos de
todos, estou a falar dessa luz que tem dentro de si…é uma alma muito bonita’.
Eu continuava a sorrir, cada vez mais envergonhada com aquela conversa e com
aquela ‘leitura’ que me estava a ser feita pelo desconhecido. ‘ Deve atrair
muita gente á sua volta, vê-se que está bem consigo e é feliz. Isso gera inveja
sabia? Há muita gente com inveja de si! As pessoas de luz são assim minha
querida mas não se importe, continue a sorrir!’
Disse mais algumas palavras, levantou-se e saiu…eu, e os que
estavam comigo á mesa, desatamos a rir. O homem era, no mínimo, estranho!
Penso algumas vezes naquelas palavras, principalmente quando
em algumas conversas surge o tema inveja. E esse tema surge porque, realmente,
há pessoas que acham que tenho a vida perfeita, a forma perfeita de viver a
vida! Essas pessoas subdividem-se em dois tipos: as que não me conhecem de todo
e me avaliam por uma mera rede social, onde estou sempre a passear e a sorrir
e, algumas que, mesmo conhecendo-me, preferem ver resultados sem questionar os
caminhos que percorri e percorro para ter a vida ‘perfeita’, que elas teimam em
achar que tenho.
Sou positiva por natureza, vejo sempre o copo meio cheio e não
meio vazio, acho sempre que depois da tempestade vem a bonança, acredito que
podemos sempre retirar uma lição de tudo o que de bom e mau nos acontece… Não o
faço porque quero ser ou parecer mais forte ou melhor do que ninguém, faço-o
porque esta foi a forma que encontrei de fazer com que a minha passagem pela
vida tenha sentido!
Uma vez, numa discussão com alguém derrotista, alguém que se
escondia atrás de uma doença que já não tinha para desistir de si, dei por mim
a ‘gritar’ : ‘não me venhas falar em perdas, não a mim, que já perdi tudo na
vida e nem por isso desisti!’
Nunca, até aquele dia, ao dizer aquilo em voz alta, tinha
parado para pensar que, realmente, já tinha perdido tudo aquilo que amava ao
longo da minha vida. Já tinha sofrido todo o tipo de perdas que um individuo
pode sentir! E acreditem que foram mesmo todas! E quando se perde tudo na vida,
já não há mais nada a perder verdade? Mentira! Há uma única coisa que resta,
uma única coisa a que te podes agarrar: tu! Posso ter perdido tudo mas não me
quero perder a mim!
Quando percebes isso, quando realmente interiorizas isso,
valorizas o que tens, o que és, o que a vida te dá, de uma forma muito mais
tranquila. Também me magoo, também me desiludo (muito), também me sinto triste
(algumas vezes), também gosto de colo e atenção mas, ainda assim, não faço
depender a minha felicidade de ninguém. Tento, isso sim, ser fiel a mim própria
porque acredito que o melhor de mim atrairá o melhor dos outros e, mesmo quando
isso não acontece, aceito e sigo. Aceitar as imperfeições dos outros,
ensina-nos a viver melhor com as nossas, a aceitar que nem todos somos iguais
no ser, no estar, no sentir! Não sou perfeita, não tenho a vida perfeita, não
sou imune á dor, não sou feita apenas de sorrisos e alegrias, não vivo tudo o
que a minha cabeça ousa sonhar mas, uma coisa sou: única! Única nas cicatrizes
que guardo, única nas histórias que vivi, única nas lições que a vida me deu, única
na forma como escolhi viver a minha vida, única no caminho que todos os dias
percorro em busca daquilo a que os outros chamam felicidade e eu chamo
essência! Não tenho a pretensão de ser feliz, tenho a vontade insaciável de não
perder aquilo que me resta: eu mesma! Não me julguem, não me tentem ‘clonar’,
não me invejem…vivam, o melhor que souberem e puderem para que também o vosso
caminho, um dia, tenha valido a pena!
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