Diz-se que é a crise o grande motivo da queda da natalidade. Mas eu questiono-me se será apenas a crise económica ou também um outro tipo de crise...a existencial! É óbvio que as mulheres têm filhos cada vez mais tarde e em menor numero mas, será isso apenas devido á instabilidade económica? Falta de dinheiro é motivo mais do que suficiente para adiar uma gravidez. E depois? Será que a maior parte das mulheres que é mãe aos 35/40 anos, atingiu nessa altura uma estabilidade financeira que não tinha anteriormente? Será que pensar que este país não é, de todo, o melhor para criarmos uma criança, nos impede de concretizarmos o desejo da maternidade? Acredito que os medos possam lá estar, a precaução também, as incertezas...mas também acredito que isso se possa dever a uma maior instabilidade emocional dos casais, a uma menor consistência das relações, a um declínio do conceito de família.
Do outro lado, estão aqueles que querem muito ser pais, contribuir para a natalidade do país mas que, por uma incapacidade natural, necessitam de recorrer a tratamentos de fertilidade. Aí sim, existe o verdadeiro travão, pois os mesmos são reservados a um pequeno número de previligiados que, conseguem pagar as quantias astronómicas que são pedidas nas clínicas e hospitais privados. Sim, porque o cidadão comum, que fez os seus descontos, que contribui para os cofres do seu país, não recebe, em troca, qualquer ajuda do Estado para realizar uma das funções primárias do ser humano:procriar!
Seja porque motivo for, é triste saber que veem cada vez menos vidas ao mundo, que cada vez existem menos sorrisos inocentes a iluminar as nossas vidas, a dar sentido aos nossos dias...
Entristece-me este país, entristece-me esta realidade, entristece-me este mundo que agora se revela e, entristece-me pensar que posso envelhecer e morrer sem que, no meu lugar, alguém possa nascer.
O factor financeiro faz muito sentido, na realidade actual. A situação de muitos casais deteriorou-se drasticamente.
ResponderEliminarPenso que estamos ainda num período geracional, algo indefinido. Os meus pais, por exemplo, cresceram no tempo da ditadura. Casaram já depois do advento do 25 de Abril.
O meu pai nado numa família rural, é o terceiro de seis (!!!) irmãos. A minha mãe, nascida numa aldeia da Serra da Estrela, veio com os meus avós, com apenas sete anos de idade, para Lisboa. Tem apenas um irmão.
Creio que o factor que distingue ambas as realidades familiares se relaciona com o elemento urbano. Nas cidades, parece-me, tinham-se menos filhos. Até porque, nas aldeias, os filhos eram vistos como mais um par de mãos para ajudar a trabalhar.
Por sua vez, os meus pais conceberam-me apenas a mim. :) Sei que, no início, a questão era económica. Entendiam os meus pais que, tendo apenas um filho, lhe poderiam proporcionar melhores condições de crescimento. Depois, talvez tenha sido comodismo. Eu estava já grandinho e, talvez, já não quisessem passar pela experiência traumática de poderem ter outro traquina como eu (sim, consta que eu era um mafarrico em ponto pequeno).
Hoje em dia, deparo-me com pessoas que, por opção, não têm filhos. A condição mais mundana das mulheres, também, dificulta um pouco o processo de constituição de família. Hoje têm carreiras profissionais, tem ambições e desafios que, há 30 anos, eram apenas uma miragem para a esmagadora maioria.
Talvez o paradigma familiar e social esteja prevertido. Sinceramente, não sei.
Eu não tenho filhos. Não por opção, mas por uma questão de conveniência circunstancial. Em rigor, houve um tempo em que fazia sentido pensar nisso. Mais do que pensar, "chegámos" a planear. Até nome escolhemos. Quer dizer, mais ou menos. Como não chegávamos a um consenso, eu proclamei a intenção de impôr a minha vontade, naquele período pós-parto, em que seria eu a registar a criança. :)
Só que...o "nós" não durou tempo suficiente para que o milagre da vida me fosse concedido, enquanto pai. Depois, as circunstâncias da minha vida (nomeadamente, a liberdade abrupta, que optei por usar e gozar até estar gasta) levam-me a pensar no tempo em que ansiei ter filhos. Penso que foi um projecto adiado, temporalmente, sem sentir a sofreguidão, que outrora senti, para cumprir esse desígnio.
No meu caso, as razões são circunstanciais. Acho que não é mais do que isso... claro que não é mais do que isso. Ainda sinto a ânsia, só não tenho pressa.
Anabela, que disparate é esse de ter receio que ninguém nasça no seu lugar? Just do it!!
P.S. - eu serei uma figura estranha, mas fico feliz que o Estado não se interesse em ajudar-me a procriar. :D